Segurança e localização valem cada vez mais no mercado imobiliário
em O Antagonista, 23/julho
Pesquisa indica que 65% dos compradores estão dispostos a pagar mais por um imóvel apenas pela localização; e 64%, pela segurança.
O Brasil é o país onde a insegurança virou ativo imobiliário e onde “localização privilegiada” vale mais que projeto arquitetônico, tecnologia ou sustentabilidade.
De acordo com uma pesquisa da Abrainc com a Brain Estratégica, 65% dos compradores estão dispostos a pagar mais por um imóvel apenas pela localização. Em segundo lugar, 64% colocam a segurança como fator decisivo para abrir a carteira. Ou seja: estamos pagando caro pela ausência do Estado.
É a velha máxima da nossa urbanização torta: quem pode, compra proteção. Portaria virtual, câmera com IA, reconhecimento facial, fechadura digital — virou regra no folder e pré-requisito no financiamento. O mercado aprendeu a vender medo disfarçado de conforto.
Muros
A pesquisa vai além: 80% dos compradores afirmam que itens de segurança impulsionam a valorização. Isso explica a proliferação de condomínios-clube e torres cercadas de muros, onde o lazer é interno e o mundo lá fora é tratado como ameaça.
Mas a questão é mais profunda. O que essa valorização diz sobre o que o brasileiro espera ao comprar um imóvel? Que não é o design, nem a eficiência, nem a tecnologia que definem o valor. É o contexto urbano decadente que ele quer fugir.
Enquanto isso, dados mostram uma mudança geracional no financiamento: em 2025, mais de 60% dos financiamentos serão feitos por jovens de 18 a 30 anos.
São compradores conectados, exigentes, mas empurrados para a mesma fórmula velha de localização e segurança. Onde estão os empreendimentos que oferecem inovação de verdade, com energia solar, automação de consumo, gestão eficiente e transparência digital?
A cidade expulsa, o condomínio absorve
O ciclo se retroalimenta: a cidade expulsa, o condomínio absorve — e os preços sobem não por qualidade, mas por escassez de segurança pública e mobilidade urbana.
Estamos valorizando o reflexo da falência do planejamento urbano. E isso não é desenvolvimento. É blindagem.
Enquanto o mercado celebra a valorização pela “localização privilegiada”, nós perguntamos: quando é que vamos privilegiar a qualidade de vida como critério de compra — e não só o medo e o CEP?
Ver online: O Antagonista
Por Rafael Bernardes, CEO do Síndicolab, e Felipe Faustino, advogado no escritório Faustino & Teles