Apesar dos juros altos, mercado imobiliário tem motivos para estar otimista, diz diretor da Abrainc
em Estadão, 4/junho
Selic alta lança desafios para o setor imobiliário, mas fatores macroeconômicos e resiliência do setor amenizam impactos negativos.
Um mercado imobiliário saudável engloba emprego, renda e juros baixos, segundo o cálculo de Renato Lomonaco, diretor de assuntos econômicos e administrativos da Abrainc. Com a taxa Selic estabilizada em 14,25% ao ano, o Brasil não é hoje um exemplo para o mundo, mas o setor apresenta um otimismo sustentado por outros fatores.
Um estudo da Sienge aponta que 76% dos empresários do segmento pretendem realizar novos investimentos em 2025. Segundo Lomonaco, esta confiança é impulsionada por fatores macroeconômicos, como os bons números de exportação, o crescimento da bolsa brasileira em relação à norte-americana e a diminuição do desemprego – que chegou a menor taxa trimestral desde 2012.
“O desemprego caiu quase pela metade desde 2021 e este é um critério de vendas importante”, ilustra o executivo. “Quando a economia brasileira está bem é porque a construção empurra. Já quando a economia vai mal, o mercado imobiliário sofre mais”, acrescenta. Além dos fatores macroeconômicos, ele destaca a resiliência do próprio setor.
Desde março de 2023, os imóveis valorizaram 10,7%, de acordo com o Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R). Em contraste, os custos de construção subiram 7,3%, segundo o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). O custo do aluguel também cresce acima da inflação, o que beneficia os investidores interessados na renda da locação.
De fato, o aluguel registrou alta de 63,6% desde 2020, enquanto a inflação subiu 33,5% no mesmo período. “A valorização dos imóveis é atrativa para os compradores e o avanço no preço do aluguel expulsa os locatários. A isso se soma o boom demográfico. Ou seja, observamos uma demanda crescente por imóveis no Brasil”, comenta Lomonaco.
Desafio dos juros na média renda
Com o desemprego em baixa, a valorização imobiliária em alta e os preços do aluguel incentivando a compra, o maior desafio do setor, segundo Lomonaco, são os juros. “Se a gente tivesse juros mais baixos, a emissão de CRIs seria maior”, exemplifica. “No entanto, se a empresa conseguir administrar bem este desafio, consegue aproveitar melhor o setor”, contrapõe.
Fabrício Schveitzer, conselheiro de negócios do Sienge, entende que o desafio dos juros é mais significativo para a classe média. “A alta renda é imune aos juros altos e a baixa renda conta como subsídios, como os do Minha Casa, Minha Vida. Já a classe média é composta de assalariados e sofre bastante com o impacto dos juros, que é brutal sobre as parcelas”.
“Apesar de ter lugares muito pujantes para o segmento, como regiões ligadas ao agro, estamos observando uma desaceleração e sinais de cansaço nas vendas de imóveis de classe média. Vemos um sinal amarelo do setor”, argumenta. “À medida que não vemos sinais de arrefecimento da inflação, a Selic alta começa a fazer pequenas rachaduras no mercado imobiliário”, aponta.
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